Pois é minha gente! Padrinhos Mágicos, série animada bacaninha, sinônimo de febre tanto na TV aberta como por assinatura, agora chega aos palcos. Isso mesmo que tu leu, rapá! Timmy Tunner e seus padrinhos-fadas desmiolados, Cosmo e Wanda em carne e osso pra pentelhada no Teatro!
A série criada pelo animador Butch Hartman, produzida pela Federator Studios e transmitida pela Disney e Nickelodeon, foi tirada das telinhas pra vida real, por uma iniciativa de produtores mexicanos. A peça deve ser apresentada no Cittibank Hall aqui no Rio e no Credicard Hall em Sampa (é impressão minha ou é questão de pouquíssimo tempo para que todas casas de show tenham nome de bancos e operadoras de telefone? Enfim...).
O espetáculo ao que tudo indica é de boa qualidade, como os detalhes dos padrinhos mágicos de entrarem em cena suspensos por fios bem fininhos (passando assim a mesma idéia do desenho que é a de sempre estarem flutuando), cenários que buscam fidelidade com a série, etc.
Porém, a grande sacada está no elenco, que é estrelado pelos dubladores, que cá pra nós, dão de 1000 nos originais!
Guilherme Briggs (Freakazoid, Dagget,Superman, Babão... ah diacho, é muito personagem pra citar) como Cosmo dá simplesmente um show à parte.
Aliás, o todo o elenco é do cacete, formado por grandes nomes da dublagem, arte da qual sou fã devoto e não é de hoje!
Saiba quem é quem:
TIMMY - Thiago Farias (esse moleque promete)
COSMO - Guilherme Briggs (dispenso comentários)
WANDA - Nair Amorim (a eterna Welma, do Scooby-Doo)
PAI - Jorge Vasconcellos (o Pai sem a voz dele não é nada)
MÃE - Élida Lastorina
CROCKER - Alexandre Moreno (Master Shake do Aquateam - f*da pra car*lho)
VICKY - Miriam Ficher (a super simpática e eterna dubladora da “jodie foster”)
(fonte : blog do Guilherme Briggs)
Já viram como as personagens em sua versão fantasiada ficaram um tanto....eh... estranhos? A questão aqui não é falar da sua confecção (até porque nem tem o que comentar) e sim demonstrar um exemplo prático de como é difícil dar tridimensionalidade a desenhos chapados (bidimensionais ao extremo, conhecidos também como desenhos "flat"). Se bem que já é complicado trabalhar mesmo em 2D com os personagens em questão justamente por serem flat demais ( bom acho melhor deixar essa última assunto pra outro post. voltemos ao assunto).
Personagens assim, têm sérias restrições quanto ao aproveitamento de suas poses. Dentro de um raciocínio de animação para TV, ou seja, Animação-Limitada (conhecida também como Animação Planejada ou Animação de recortes), essa lógica faz-se necessária, uma vez em que este processo se baseia em animar a menor quantidade de quadros possível para agilizar a produção,sempre trabalhando em cima de “recortes” (ou símbolos na nova linguagem vetorial). Sendo assim, há toda uma preocupação estética em não se desenhar personagens em posições que requerem um detalhamento mais elaborado.
É claro que durante a criação, o character designer (desenhista responsável pelo visual dos personagens) estuda os desenhos a fundo, porém dentro deste método de produção só se trabalha com aquelas poses que forem realmente necessárias ao episódio.
Observem:
Dar tridimensionalidade a isso tudo pode acarretar numa certa descaracterização dos personagens, correndo o risco de perder desse modo,sua essência. Boa parte da gag de um personagem está diretamente associada a seu visual. Alguns recursos que valorizam o estilo gráfico dos padrinhos mágicos estão contidos no outline (linha de contorno) acentuado e poses geralmente fixas em 3/4 (que na linguagem de animação é a posição intermediária entre frente e perfil), com personagens de construção ora angulares, ora abaulados.
Esses são os pais do Timmy: A primeira vista, os personagens estão de frente, mas observando bem a relação rosto/tronco, é bem claro que estão sob a perspectiv a de 3/4, um truque comum usado pelos animadores para obter uma leitura visual mais agradável . Veja também os traços angulares nas dobras dos braços e nos rostos em forma de "quina " assim como a geometrização nas mãos. Na linguagem 2d (bidimensional), essa fórmula funciona.
Agora saca só como fica essa linguagem quando é transposta para o universo tridimensional.
Lendo em alguns livros de animação e também artigos publicados em blogs de animadores respeitáveis,pude perceber que o que realmente “pega” na questão dos Padrinhos Mágicos é que seu design possui solidez e volumetria aparentes. Se você quer uma série com estilos semelhantes para comparação, posso citar os Flintstones. Eles possuem suas posições básicas bem resolvidas, tendo assim um legibilidade visual assustadora! Trocando em miúdos: Se fossem modelados em 3D, seriam mais interessantes do que o simpático pentelho do Timmy.
Escolhi essa imagem dos flinstones, por ser apresentada de frente, pose rara de aparecer em seus episódios. Tanto o Fred quanto o Barney possuem toda sua essência (rostos bonachões e abrutalhados). Houve uma preocupação em se dar solidez e volumetria necessárias em qualquer perspectiva. Quer uma prova prática?
Nada mais concreto do que usar um bonequinho colecionável do Fred como exemplo.
Repare que mesmo em 3D, suas características se conservam.
Flinstones pode ter sido concebido em 2D, mas todo seu estudo foi baseado em como seriam se fossem de carne e osso, o que pode dar um leque de opções muito diversificado para os animadores. Isso é um charme que só personagens cartunizados possui.
Mas voltando aos Padrinhos Mágicos, o que dizer sobre o crossover Jimmy vs. Timmy?
Pra quem não sabe, foi um episódio onde Jimmy Newtron (um equivalente do “O Laboratório de Dexter" em 3D) troca de mundo com Timmy e seus padrinhos. A premissa até que é bacaninha, vamos ao que interessa:
Mesmo que Jimmy Newtron tenha características expressivas peculiares, sua conversão ao estilo" chapadão" dos P. Mágicos torna-se mais aceitável. Bem ou mal, o espectador consegue se adaptar, buscando talvez instintivamente alguma semelhança ao Jimmy original através de sua interpretação.
Entretanto...
É bem complicado dizer o mesmo do Timmy em CG, pois por mais que se tente compensar em outros aspectos, o personagem perde tanto de seu apelo visual que acaba por ficar algo totalmente sem graça na tela. Nem sempre a conversão de um cartoon 2D p/ 3D e vice-versa possuem resultados satisfatórios. Sei que é um assunto que leva a várias discussões e poderia durar horas à fio, mas quero deixar bem claro que é só uma análise minha. Admiro os dois tipos de animação e apenas quis fazer uma crítica construtiva na medida do possível.
Para mim, o grande desafio em elaborar um bom character design é testar até onde vão os limites daquilo que é feito pela sua imaginação, independente de quantas restrições orçamentárias existam na produção. E acreditem, são poucos os feras que conseguem tal façanha (e invejo cada um deles hehehe - brincadeira)